terça-feira, 11 de novembro de 2008

Eros e Psique

Fernado Pessoa é um escritor que me acompanha desde a minha adolescência (ontem mesmo!) e, acredito, que ele deva ser lido justamente nessa fase da vida da gente, porque ele nos faz gostar de poesias (assim como Monteiro Lobato nos faz gostar de ler desde a infância).
O poema Eros e Psique eu sabia de cor e salteado e adorava recitá-lo sempre que aparecia uma oportunidade. Ele me fazia pensar em um monte de coisas: Eu achava que o Fernando Pessoa estava admitindo sua homossexualidade com esse poema (porém há controvérsias, alguns dizem que ele não era homossexual ,mas que fazia poesias femininas.... essas coisas de poeta!).
Ou era somente o Fernando nos dizendo que em cada um de nós existe a dualidade: o masculino e o feminino. Ou quem sabe ele nos falava sobre nossa eterna e interna luta de auto-descobrimento e auto-conhecimento, em suma..passava-se de tudo pela minha cabeça e, relembrando os velhos tempos, aí vai a poesia:

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,

Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

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